O que perceberam os pesquisadores ao levar milhares de amostras, as quais respondem a 396 nomes diferentes de espécies de cannabis, para um laboratório? Que havia ali somente três variedades químicas distintas da planta. Isso levou os cientistas a concluir que os nomes das cepas, muitos deles incrivelmente criativos, não significam lá muita coisa.
“A variabilidade muito limitada nos perfis químicos mostra que a maioria dessas cepas são quase iguais. Em outras palavras, foram apenas nomeadas de forma diferente”. Assim descreveram os pesquisadores do estudo, publicado recentemente na Cannabis and Cannabinoid Research.
Os pesquisadores coletaram mais de 2,6 mil amostras de flores de cannabis em Nevada (EUA) entre janeiro de 2016 e junho de 2017. Logo após, mediram os perfis químicos por meio de um laboratório de testes terceirizado, que analisou o conteúdo de canabinoides e terpenos em cada amostra.
Entre os perfis analisados, 93% das amostras poderiam ser agrupadas no mesmo grupo (de um total de três). Em relação aos terpenos, perceberam três grupos distintos, representando 59%, 33% e 8% de todas as amostras. Cada um apresentava um terpeno específico e mais abundante: β-mirceno, γ-terpineno ou limoneno, respectivamente.
Os pesquisadores também coletaram amostras representativas de DNA de cada quimovar e encontraram 12 clados genéticos distintos.
“Analisamos dados dos testes químicos usando diferentes métodos estatísticos. Dessa forma descobrimos que havia, surpreendentemente, pouca variabilidade nos perfis químicos entre as 2.662 amostras de flores secas”, afirmaram os pesquisadores. Posteriormente, afirmaram que, ao examinar a composição dos canabinoides, “exceto para as poucas amostras de alto CBD, todas as amostras continham uma quantidade muito alta de THC (> 22% em média) e quantidades muito pequenas de outros canabinoides”.
Os pesquisadores presumiram que a composição do terpeno “é muito mais indicativa da origem da amostra e do fundo genético do que do perfil canabinoide em si. A ligação entre os terpenos e os três clusters faz sentido, uma vez que os terpenos fornecem as cores e aromas que diferenciam as muitas variedades de cannabis.”
“Os três quimovares e os 12 genótipos refletem a baixa diversidade médica no mercado em Nevada durante sua fase de “uso exclusivamente medicinal”. Além disso, os 396 nomes de amostras da cannabis relatados por seus criadores dentro deste conjunto implicam em uma falsa sensação de diversidade de produtos”, escreveram em sua conclusão.
Eles destacaram a falta de padronização nos nomes das variedades de cannabis. Opinaram que eles são “mal ou nada definidos”. O resultado seria “uma situação confusa para os pacientes, que dependem das identificações e dados de potência nas embalagens. Se os nomes comerciais tiverem relação pouco consistente com o genótipo ou fenótipo químico, então eles não devem ser a informação primária fornecida aos pacientes para sua tomada de decisão.”
Os pesquisadores acrescentaram que a falta de rotulagem precisa, perfis químicos inconsistentes e testes limitados “tornam difícil ou impossível para muitos pacientes obter um perfil químico consistente do produto”.
Os resultados de laboratório levaram os pesquisadores a concluir que, na medida em que desenvolvem-se novos quimovares de cannabis, os criadores selecionam cepas para obter principalmente altos níveis de THC. “Todos os outros canabinoides parecem ter sido ignorados, embora eles soubessem, ou suspeitassem, de seu valor terapêutico”.
Se os nomes dos quimovares de cannabis estivessem ligados à assinatura química de seus ingredientes ativos, os médicos poderiam definir suas recomendações com mais confiança. Também afirmaram que a falta de educação de pacientes e médicos sobre outros canabinoides e terpenos pode a ser razão pela qual as cepas com alto teor de THC dominam o mercado.
Em um episódio recente do podcast Cannabis Enigma, o pesquisador de cannabis Dr. Ethan Russo afirmou que a indústria da cannabis se concentrou fortemente na produção de cepas com alto teor de THC que também são muito ricas no terpeno mirceno, o qual apresenta um efeito sedativo. Isso cria, consequentemente, uma situação em que consumidores e pacientes de maconha medicinal não são capazes de realmente obter variedades que apresentam uma ampla gama de canabinoides e terpenos.
“Parte desse problema foi gerado pelas práticas de criação. Em suma, o mercado está muito relacionado aos quimovares com alto teor de THC”, disse Russo, observando que o mercado recreativo supera o mercado medicinal neste momento.
Russo também afirmou que o nome ou a aparência do quimovar não é uma maneira precisa de realmente entender a composição da cannabis em questão.
“Precisamos saber o que contêm, quais são os canabinoides e terpenos predominantes. Assim, teremos uma boa ideia do que esperar em termos de resultados ou efeitos quando as pessoas usarem esse quimovar”, defende o pesquisador.
Fonte: https://cannigma.com/pt-br/noticias-pt-br/a-confusao-dos-muitos-nomes-da-cannabis/ Data: 07/09/2021.
Matéria extremamente interessante.