Os produtos de beleza e de cuidados pessoais com claims relacionados à Cannabis movimentaram nada menos que US$ 12 bilhões em 2018 em todo o mundo, segundo a Euromonitor, que aponta também que até novembro de 2019 havia mais de 500 marcas com aproximadamente 4,3 mil SKUs com esse apelo em 40 mercados.
Ainda de acordo com o levantamento da Euromonitor, o número de SKUs derivados da Cannabis aumentou 161% no período de um ano, até 18 de novembro de 2019. O aumento foi maior entre os SKUs que foram comercializados como contendo CBD, um aumento de 568%. “A explosão do crescimento no uso do termo CBD em comparação com outros termos, como Cannabis e óleo de cânhamo, confirma uma mudança no marketing, já que muitas marcas, quem tinham o cânhamo em seu marketing, estão explorando o CBD”, analisa Kayla Villenna, analista da Euromonitor International.
Cânhamo, maconha, Cannabis
O sistema endocanabinoide presente dentro de um organismo, tecido ou célula é ativado por canabinoides endógenos e exógenos, que interagem com receptores canabinoides, sendo os principais o CB1 e o CB2. No caso da Cannabis, os mais conhecidos são o Tetrahidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD), que interagem com o sistema endocanabinoide para produzir efeitos físicos e psicológicos no organismo.
De acordo com a HempMeds Brasil, o cânhamo e a maconha são plantas da mesma espécie, a Cannabis sativa, mas são geneticamente distintas e geralmente utilizadas para finalidades diferentes. As sementes do cânhamo são usadas na produção de alimentos, suplementos nutricionais, medicamentos e cosméticos, já o caule e suas fibras são usadas na produção de papel, tecidos, compostos plásticos e materiais de construção. Para uma planta de Cannabis ser considerada cânhamo, ela deve conter no máximo 0,3% de tetrahidrocanabinol (THC), o princípio ativo que causa efeitos psicoativos. Este nível de THC é 33 vezes mais baixo no cânhamo do que o encontrado na maconha. Além disso, o cânhamo tem um teor mais alto de canabidiol (CBD), um dos mais de 120 canabinoides até então identificados na Cannabis. A maconha é a Cannabis cultivada principalmente por suas propriedades psicoativas.
Produtos pelo mundo
Na análise da Euromonitor, por uma questão de marketing, muitas marcas estão escolhendo o termo óleo de semente de Cannabis sativa, em vez de óleo de cânhamo, para capitalizar a associação. Além disso, as grandes do setor começam a aproveitar a crescente popularidade da Cannabis, o que antes era um movimento mais relacionado às indie brands.
A Avon acaba de lançar a Cannabis Sativa Oil Skincare Collection, com produtos que limpam, restauram e protegem a pele. Formulada para suavizar a pele seca e irritada, a linha é composta por um hidratante leve para o dia, um balm restaurador e um leite de limpeza.
O Cannabis Sativa Seed Oil Herbal Concentrate, da Kiehl’s, marca americana do Grupo L’Oréal, tem como um de seus sucessos o Cannabis Sativa Seed Oil Herbal Concentrate, desenvolvido para todos os tipos de pele, especialmente para as oleosas e com tendência a manchas. É fabricado com ingredientes naturais, incluindo óleo de semente de cannabis sativa prensada a frio e óleo de orégano.
Desde 1992, a The Body Shop utiliza o cânhamo como um ingrediente protagonista de alguns de seus produtos, entre eles manteiga corporal, protetor labial, creme para as mãos e outros.
O Tratamento capilar Jasmine & Henna Fluff-Eaze, da Lush, desenvolvido especialmente para cabelos crespos, secos e indisciplinados, contém óleo cânhamo orgânico, castanha do Brasil e óleo de coco extra virgem.
O CBD Sleep Drops Rodial passa a integrar a linha Booster Drop da Rodial, uma das linhas mais vendidas da marca e que agora inclui uma versão do CBD. Tem ação anti-inflamatória e reduz a aparência de pele cansada. Contém ainda esqualano, que reduz a perda de água, fazendo com que a pele pareça com mais volume.
A marca Wildflower, que defende buscar ao máximo o poder das plantas para a saúde e o bem-estar lançou os sabonetes CBD + Lavender, que podem ser usados nos cabelos, rosto e corpo. Além de CBD, incluem óleos essenciais de lavanda, baunilha e coco.
A Kovo Essentials Skincare , de Nova York, diz que lançará uma nova linha de produtos para a pele CBD + Probiotic em meados de maio de 2020. A nova linha incluirá dois séruns faciais, uma névoa de peptídeos e patchs para a área dos olhos. A empresa diz que usa o nano CBD para aumentar a taxa de absorção, permitindo que os produtos se hidratem, restaurem os níveis de pH e reforcem a defesa natural da pele contra a oxidação.
Outras fontes de canabinoides
No Brasil, o potencial do mercado dos derivados da Cannabis é enorme. Viviane Sedola, CEO e fundadora da Dr. Cannabis, durante a Latin America Investment Conference, realizada em janeiro em São Paulo, estimou que o mercado da Cannabis em higiene e beleza poderia chegar a R$ 2,5 bilhões ao ano. Embora os derivados da Cannabis em cosméticos tendem a permanecer proibidos por alguns anos, os fabricantes contam com outros óleos e ativos alternativos com ação semelhante.
Pesquisadores do mundo todo vêm demonstrando que não são apenas os canabinoides presentes na cannabis que têm ação sobre o sistema endocanabinoide. O Laboratório Vincience da Ashland na França, por exemplo, desenvolveu um ativo derivado do pachouli, o cb2-skin™, como uma alternativa patenteada ao óleo de canabidiol (CBD) para acalmar, suavizar e manter a juventude da pele.
“O cb2-skin™ é uma alternativa aos derivados controversos da Cannabis, com benefícios superiores em modular o sistema endocanabinoide da pele, por meio da ativação do receptor CB2 2”, explica Liliana Brenner, diretora de marketing de Care Specialties da Ashland.
A sustentabilidade do cb2-skin™, proveniente de fazendas integradas e sustentáveis da Colômbia, foi reconhecida ao conquistar o Sustainable Beauty Awards, concedido à Ashland durante edição europeia da Sustainable Cosmetics Summit 2019.
A diretora destaca alguns dos benefícios demonstrados em estudos e testes ex e in vivo com o ingrediente, que não é controverso e que pode ser utilizado sem problemas regulatórios: “cb2-skin™ ajuda a equilibrar as defesas imunes da pele e sua função de barreira. Ele visivelmente aumenta a beta-endorfina da pele, atenua a irritação induzida pelo UV (IL1-R1) e o desconforto (TRPV1), reduzindo os sinais de irritação, como vermelhidão e ardência, a coceira e acalmando a pele”.
Como sugestões de formulações, Liliana indica o cb2-skin™ para aplicação em produtos para pele sensível, fórmulas pro-aging, produtos capilares para reduzir a irritação do couro cabeludo e produtos corporais para firmeza, estrias e outros. “É perfeito para aplicações em produtos que seguem o conceito ‘better for me’, que integram rituais de beleza para ajudar a desconectar do estresse da vida cotidiana”. O produto é 100% de origem vegetal (ISO 16128), tem certificação COSMOS e é listado na China (IECIC e IECSC).
CBD da Floresta Amazônica
Rafaella Tomazini Candido, analista de marketing técnico de personal care da Citróleo, reforça que, além do canabidiol (CBD) e do tetra-hidrocanabinol (THC), vários canabinoides estão presentes na cannabis e em outras plantas, como é o caso do β-cariofileno (BCP), que também é encontrado na copaíba. “A copaíba é um dos ingredientes naturais mais interessantes. Além se enquadrar em diversas expectativas quando se pensa em saúde, naturalidade, bem-estar e cura, seu óleo não tem qualquer contraindicação e é altamente eficiente”.
De acordo com a analista, as propriedades medicinais da copaíba já eram conhecidas há séculos pelos nativos da Amazônia, utilizada em preparações populares para aliviar dores ou como solução antimicrobiana. Da parte mais volátil da planta é extraído o óleo essencial, onde se encontram mais de 60 substâncias, entre terpenos e outros compostos.
O óleo de copaíba é obtido por destilação a vapor do bálsamo de copaíba, cujo cultivo é totalmente sustentável pelos parceiros do Grupo Citróleo. “Com custos atraentes, uma das vantagens é que sua composição completa oferece melhores resultados do que canabinoides isolados, como é o caso da molécula de CBD”, destaca.
Rafaella acrescenta que, mesmo na forma pura, o CBD da Cannabis pode ter quantidades vestigiais de THC, que possui atividade psicoativa no cérebro. Além disso, pelo fato de ser uma molécula isolada, o CBD deve ser misturado com outros compostos, como um óleo veicular. Dessa forma, a atividade nos receptores CB é indireta.
Além de ação antimicrobiana, Rafaella explica que o BCP fornece atividade neuroprotetora, a partir da ativação seletiva de receptores canabinoides do tipo 2 (CB2), reduzindo o processo de inflamação. “Diferentemente do CBD, o óleo de copaíba tem atividade direta nos receptores de CB e mais de 1 mil estudos publicados que demonstram a atividade de seus constituintes e sua interação e influência no corpo humano. O óleo de copaíba, com mais de 70% do BCP, é mundialmente aceito e legal, além de ser 100% puro e ativo”.
Segundo Rafaella, além do BCP, o óleo de copaíba é uma fonte natural de substâncias anti-inflamatórias e a sinergia entre todos os seus componentes permite várias outras aplicações, com um suporte robusto. “É totalmente seguro, aprovado em todo o mundo, sem restrições ou efeitos colaterais, 100% livre de psicoativos e um dos principais filhos da cosmética milenar amazônica”, afirma, acrescentando que o óleo de copaíba da Citróleo pode ser usado topicamente na pele para limpar, desintoxicar e reduzir manchas. Quando ingerido, também pode ter efeitos positivos na saúde, como ação expectorante, atividade gástrica, hepática e renal, além de cicatrização.
Homeostase saudável
Natália Scagliusi, especialista de marketing de produto da IMCD, alertando para o aumento em grande parte do mundo da prevalência de doenças da pele, como acne, dermatite atópica, alergias e psoríase, destaca uma abordagem adaptógena para fornecer ao consumidor uma solução altamente eficaz e sustentável para melhorar a saúde e o bem-estar da pele: o ativo AnnonaSense CLR™, desenvolvido pela CLR Berlin, que promove a homeostase saudável na pele com efeitos imediatos e duradouros.
Segundo a especialista, o AnnonaSense CLR™ é um ativo natural, obtido da Annona Cherimola, uma fruta originária da América do Sul, com potente ação adaptogênica no sistema ECS/EVS da pele, promovendo ação anti-inflamatória, além de fornecer meios para estabelecer equilíbrio homeostático sustentável na pele. “Este potente mecanismo de ação suporta o sistema endocanabinóide da pele, ativando o receptor CB2, além de reduzir a produção dos principais mediadores inflamatórios como CGRP, IL-1β, IL-8 e IL-6”.
Proporcionando ação antiestresse, suavizante e calmante, AnnonaSense CLR™, segundo Natália, torna a pele menos sensível e mais equilibrada, diminuindo incômodos como prurido, vermelhidão, entre outros. “A aparência da pele melhora e a percepção de bem-estar e qualidade de vida é reforçada”, afirma, ressaltando que o ingrediente, que é uma alternativa não controversa ao CBD da Cannabis, conquistou o ouro do Innovation Zone Best Ingredient Award, conferido durante a in-cosmetics Asia 2019.
Com benefícios demonstrados em testes in vitro e in vivo e com certificação Cosmos, o AnnonaSense CLR ™ é hidrossolúvel e de fácil manuseio, podendo ser utilizado em emulsões, géis e géis creme. “Melhorar a saúde e o bem-estar da pele leva a um sentimento geral mais positivo e a uma melhor qualidade de vida”, completa Natália.
Fonte: https://cosmeticinnovation.com.br/beleza-proibida-realidade-distante-para-os-derivados-da-cannabis-no-brasil/