Historicamente, entorpecentes foram usados pela maioria das sociedades e, durante todo esse tempo, esses territórios eram governados de acordo com os costumes locais. A partir do século 20, os países ocidentais gradativamente passaram a adotar políticas restritivas quanto ao uso e à venda de certas drogas, o que, mais tarde, tornou-se uma medida praticamente universal.
Mesmo no Brasil proibicionista, existe classe e raça para que as leis sejam aplicadas. Você pode usar, vender e até ser pego com cocaína e não ser preso, por exemplo, se você for um homem branco, classe média/alta, filho de alguém $importante$ para a sua cidade, deputado, senador, etc. O proibicionismo é, assim, fortemente racista.
60% das mulheres presas, estão presas pela legislação de drogas. O movimento também é parte de um debate mais amplo sobre a questão da “interseccionalidade” entre os movimentos sociais e as diversas formas de opressão.
Kya Mesquita e Isa Gil: Por que a Cannabis foi proibida?
A Interseccionalidade é pensada como uma categoria teórica que focaliza múltiplos sistemas de opressão, em particular, articulando raça, gênero e classe. O termo, nas palavras de Carla Akotirene:
“Demarca o paradigma teórico e metodológico da tradição feminista negra, promovendo intervenções políticas e letramentos jurídicos sobre quais condições estruturais o racismo, sexismo e violências correlatas se sobrepõem, discriminam e criam encargos singulares às mulheres negras.”
O Brasil logicamente não tem mais estrutura para essa Guerra que já dura +7 décadas, essa condição também destrói o pouco de estrutura que poderia ser conquistada. A guerra às drogas inviabiliza a plena execução da vida nesses locais. Seja pelas escolas sem aulas ou com índice do IDEB prejudicado, clínicas da família com atendimento suspenso ou comércio fechado, tudo isso gera impacto diretamente na dinâmica e nas possibilidades do local, fazendo com que, a médio e longo prazo, viver ali gere menos oportunidades e possibilidades. (Artigo IDMJR — Política de Drogas e Reparação Histórica)
Os dados indicam que oito em cada dez presos estudaram, no máximo, até o ensino fundamental. Com isso percebemos que é o povo pobre, preto e marginalizado que lotam os presídios, e que, historicamente, foram direcionados para esse NÃO-espaço, para essa criminalidade que ‘justifica’ a desumanização e o genocídio da Guerra as Drogas.
O ativismo antiproibicionista não é baseado apenas na defesa dos usuários e da legalização da maconha, afinal a maconha não é a única droga proibida; falar sobre os impactos do proibicionismo é tarefa não só dos usuários de drogas ilegais, aliás, é essa uma das posturas que os proibicionistas queriam. Conservadores proibicionistas queriam que tudo fosse tão marginalizado e desmoralizado, que poucos se atreveriam a questionar, comunicar ou expor suas verdadeiras opiniões sobre o tema; o Tabu é um aliado da Guerra.
população acredita que a proibição é uma forma de proteção e, além disso, pensa, em sua grande maioria, ser apenas um método “eficaz” de controle da civilização contra o ‘mal’ moral; porém, essa ‘civilização’ da PUNIÇÃO e do encarceramento nunca atingiu o objetivo de erradicar o uso e venda de drogas. O resultado é óbvio mas precisa ser repetido: superlotamento dos presídios, 3ª maior população em cárcere do mundo e, dessa grande parcela, 67% das presas são pessoas negras – esse é um dado público.
Fonte: https://www.cannabismonitor.com.br/kya-mesquita-isa-gil-antiproibicionismo-e-uma-causa-de-drogados/ Data: 13/04/2021.