Segundo a ADJ (Diabetes Brasil), o diabetes é um problema emergente mundial. O número de pessoas que sofrem da doença tem aumentado muito além do previsto, e está alcançando um dos primeiros lugares em causa de mortes por todo o globo. Em 2015, o diabetes alcançou quinto lugar no ranking, sendo que em 2000 não estava nem entre os dez primeiros. Estima-se que uma pessoa morra por complicações da doença a cada 6 segundos.
No Brasil, o diabetes é a quarta principal causa de mortes, acometendo um em cada dez adultos no País (14,3 milhões de pessoas). Isso gera um custo de mais de 21 bilhões de dólares ao ano na área da saúde. Como a maconha pode ajudar? Nós ainda não sabemos com exatidão, mas temos algumas pistas.
As principais recomendações na prevenção de Diabetes, sobretudo o tipo II, incluem uma dieta balanceada e exercícios físicos. Estudos têm indicado, contudo, que a cannabis também tem um papel na prevenção da doença.
“Uma descoberta mais recente indica que a cannabis pode ajudar a tratar e até prevenir a ocorrência de diabetes; ela exerce um efeito pró-metabólico em pacientes diabéticos, ajudando a normalizar os níveis de açúcar, colesterol e lipídios no sangue. Além disso, a incidência de insulite (inflamação no pâncreas que pode causar redução de insulina) é reduzida nesses pacientes”. (HOLLAND, 2010)
Um estudo realizado em 2012 indicou que usuários de cannabis têm menos chances de desenvolver diabetes. A pesquisa foi realizada com a população americana em geral, encontrando que a prevalência de diabetes em não-usuários é de 18,9%; de usuários esporádicos, 15,8%; e de usuários frequentes é de 9,2%. Ou seja, as chances de desenvolver diabetes caem pela metade em usuários frequentes de maconha.
O diabetes tipo I, ou diabetes mellitus, é uma doença autoimune. As células que produzem insulina são identificadas pelo organismo como uma ameaça, devido a um defeito na resposta imunológica, e atacadas pelos anticorpos. Esse defeito ocorre na resposta imunológica TH1, uma resposta inflamatória, causando, portanto, inflamação no pâncreas (onde a insulina é produzida).
A cannabis tem um efeito anti-inflamatório (identificado também em estudos com THC e com o CBD isolados), mas sem afetar a capacidade imunológica do organismo. A erva parece inibir a resposta imunológica TH1 e favorecer a TH2 (uma resposta imunológica anti-inflamatória). Dessa forma, a cannabis é capaz de reduzir os efeitos negativos de doenças autoimunes como a diabetes mellitus, sem, contudo, diminuir as defesas do organismo.
Em uma investigação realizada pela AAMC (American Alliance for Medical Cannabis), foi constatado que:
“Muitos canabinoides agem primariamente para inibir protaglandinas e COX-2 (substâncias ligadas à inflamação de tecidos), providenciando ação antioxidante para salvar radicais livres, e inibindo macrófagos (relacionado ao efeito autoimune da doença) e TNF (também inflamatório). Isso tudo significa que a cannabis é um excelente anti-inflamatório que não apresenta os efeitos colaterais de esteroides (que diabéticos precisam evitar) (…), como Vioxx.”
A diabetes também tem uma série de complicações no sistema nervoso. A Cannabis é conhecida por ter um efeito neuroprotetor (que tem ajudado no tratamento de crianças com epilepsia), que pode ajudar a combater uma série de complicações causadas pelo diabetes.
O diabetes é uma das mais comuns causas de cegueira em adultos, 90% dos diabéticos tipo I desenvolvem problemas na visão. O que ocorre, é a neurodegeneração (morte de células nervosas) da retina. Estudos em ratos demonstraram que canabinoides, especialmente o CBD, são capazes de combater essa neurodegeneração e prevenir a cegueira (El-Remmessy et al., 2006).
A cannabis também é eficaz no tratamento da dor neuropática presente em pacientes com diabetes.
Entre outros efeitos da cannabis que podem auxiliar pacientes com diabetes, está sua função como vasodilatador, facilitando a circulação sanguínea desses pacientes. Os problemas circulatórios causados pela diabetes são conhecidos por levar membros a serem amputados.
Muitos relatos de pacientes estão vindo à tona, revelando o potencial da cannabis para o tratamento do diabetes. Uma senhora de Santos, litoral de São Paulo, que não quis ser identificada, substituiu doze doses diárias de insulina por algumas gotinhas de um óleo de maconha concentrado.
São necessários mais estudos para determinar a real eficácia da cannabis no tratamento do diabetes, quais as cepas de maior interesse para esses pacientes, suas dosagens, etc. Enquanto isso, o número de diabéticos continua aumentando, e estima-se que chegue a atingir 1 em cada 7 adultos no Brasil (mais de 23 milhões) em 2040. Pesquisas em como prevenir e tratar a doença mais eficazmente são, de fato, uma prioridade.