Atualmente, pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) número 660, mais de 67 mil pessoas no país têm autorização da Anvisa para importar medicamentos à base de cannabis. Só nos últimos dois anos, houve um salto de 134% no número de produtos vindos do exterior: de 50.703 em 2020 para 118.738 em 2021.
Com isso, 140 marcas já entraram no Brasil via importação, sendo que as 20 maiores representam 86% das vendas realizadas entre 2020 e 2021. Os dados foram obtidos pela Kaya Mind, primeira empresa brasileira especializada em dados e inteligência de mercado no segmento da cannabis e seus derivados.
Comprovado em ensaios clínicos, sabe-se que o canabidiol tem propriedade anticonvulsivante, ansiolítica e antipsicótica, além de ser usado para o controle de dores crônicas.
O tetrahidrocanabinol, por sua vez, tem aplicações para a diminuição da dor e da espasticidade (distúrbio que provoca contrações e enrijecimento musculares involuntários), além de ser receitado como antiemético, prevenindo náuseas e vômitos em pacientes que estejam se tratando contra o câncer, por exemplo.
Veja a seguir alguns dos principais usos dessas substâncias canábicas:
1. Epilepsia
Há registros do uso e da eficácia da cannabis como anticonvulsivante desde o século 19. Mas, com a proibição da planta em diversos países a partir dessa época, seus benefícios demoraram a ser estudados. Hoje, pesquisas clínicas mostram que o canabidiol é capaz de reduzir crises convulsivas em casos de síndromes epilépticas raras e epilepsia refratária sem causa definida.
Um estudo publicado em 2020 na Drug Science, Policy and Law, conduzido por pesquisadores da Imperial College London, observou uma redução de 97% na frequência mensal de convulsões em crianças com epilepsia grave tratadas com dois extratos de canabidiol.
2. Esclerose múltipla
Outra propriedade da cannabis medicinal é a diminuição da espasticidade, que provoca espasmos involuntários pelo corpo e é um dos sintomas da esclerose múltipla. O tratamento com CBD e THC também diminui a liberação de citocinas inflamatórias, a apoptose (morte celular) e a dor neuropática. Esses efeitos têm sido demonstrados por estudos desde os anos 2000 e, hoje, a planta já é bem aceita para combater o avanço da doença.
3. Dores crônicas
O uso de canabinoides pode diminuir dores crônicas em até 30%, como apontam estudos das últimas duas décadas. Segundo um levantamento realizado com mil pessoas que utilizam cannabis medicinal, 65% alegam consumir esses produtos para aplacar a sensação dolorosa.
Entre elas, 80% avaliam a droga como muito ou extremamente útil no tratamento, 82% diminuíram ou suspenderam o uso de analgésicos e 88% abandonaram opioides. A pesquisa foi publicada em 2019 no Journal of Psychoactive Drugs.
4. Ansiedade
Ao agir diretamente em subtipos de receptores GABA, neurotransmissor que produz um efeito inibidor e relaxante sobre o sistema nervoso central, o canabidiol gera uma resposta semelhante à dos medicamentos ansiolíticos.
Além disso, o CDB modula a atividade de repouso de áreas do cérebro associadas à ansiedade, como o hipocampo e a amígdala. Não à toa, ele tem sido bastante estudado e utilizado no tratamento desse transtorno mental, especialmente para casos de estresse pós-traumático, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), fobia social e agorafobia.
5. Náusea e vômito
O efeito antiemético do CBD e do THC começou a ser estudado nos anos 1980. Desde então, os compostos têm sido considerados opções seguras e eficazes para o alívio desses sintomas em pessoas se tratando contra condições como câncer, HIV e enxaqueca.
Esse efeito é observado porque os canabinoides agem como antagonistas da 5-hidroxitriptamina do receptor 3 (5-HT3) — em bom português, um receptor neurológico ligado a comportamentos de ansiedade. A interação entre as substâncias diminui náuseas e vômitos.
6. Anorexia nervosa e Caquexia
Desde os anos 1990, pesquisas têm analisado a função do THC em casos de distúrbios alimentares. A anorexia (caracterizada por uma distorção de imagem que gera compulsão por emagrecer e recusa em comer) e a caquexia (perda de tecido adiposo e músculos) são duas condições que podem ser tratadas. A substância interage com o sistema endocanabinoide, responsável por regular a ingestão de alimentos.